:: O dono da Terra: o caboclo nos candomblés da Bahia (Jocélio Teles dos Santos)

Título: O dono da Terra: O Caboclo nos Candomblés da Bahia
Autor: Jocélio Teles do Santos
Editora: Sarah Letras
Ano Lançamento: 1995
ISBN: 85-85843-05-5
165 pags

RESENHA
Por Tainã Barreiros Troccoli Cardoso

Segundo o livro de Jocélio Teles Dos Santos, escrito em 1995, o culto a caboclo é datado, antes da metade do século XIX, tendo importantes contribuições não só para o samba, mas para sociedade também. De certa forma, o candomblé de caboclo cria uma historia-pastiche entre negros e índios, no período colonial, onde de forma mutua, omite-se a utilização pelos portugueses de negros para caçarem índios e índios caçarem os negros.                       

O livro afirma que a inserção do caboclo no universo afro baiano no período correspondente ao romantismo e ao movimento de independência da Bahia, quando surge a ideia do índio como herói nacional. O autor também afirma que essa inserção do índio aos cultos brasileiros inicia no romantismo e durante o movimento de 1823 (metade do século XIX).       

Segundo o livro, a palavra “caboclo” procede do étimo tupi, a cadeia evolutiva poderia ser: 1) cariboca, 2) coriboca, 3) coriboco, 4) coboroco, 5) caboroco, 6) cabocolo, 7) caboclo; todas documentadas em textos portugueses, datados em 1648, 1645, 1687, 1757, 1781 e com o significado de índio mestiço de branco com índia, homem do sertão, de hábitos rurais e pele queimada pelo sol.                                                                                                    

O livro faz uma passagem (pág-59) onde afirma que “o ritmo tocado para os caboclos é mais frenético que para os orixás” e que essa afirmação pode vim a transformar-se no samba de caboclo. Além dos atabaques (feitos de barro cobertos com couro de veado) e gã, segundo o autor (pág 68) a orquestração do candomblé de caboclo tinha também flauta, viola, pandeiro, triangulo de ferro, berimbau, caxixi eganza. Os atabaques do candomblé de caboclo são tocados com a mão, indicando a forte influencia bantu. Configurações e características resultantes da mistura entre as culturas Banto com Ameríndia. 

Dando continuidade a iniciação do que é o candomblé de caboclo, o autor afirma que em 1964 é reconhecido que os candomblés de nação keto como Gantois e engenho velho, casas consideradas tiranas, esta existindo caboclo. Consta em uma matéria do jornal correio da tarde de 18/11/1901 transcrita por Nina Rodriguez, relatando invasões policiais afirmando como ‘jeje-nago’ o que estava acontecendo ali reafirmando que o candomblé de caboclo não era uma exclusividade dos terreiros de origem banto.                          

Segundo o autor o samba de caboclo, que acontece nos finais das festas e que é resultante do samba de roda, descende das antigas danças de roda de Angola e Congo, tendo como contraponto a umbigada das rodas de samba a inclinação das pernas do caboclo em direção a pessoa escolhida para ir para o centro do terreiro substituí-lo. 

Outra influência bantu, a capoeira, é observada no samba de caboclo através dos movimentos corporais do caboclo. Por outro lado, é encontrado, tanto no samba de roda tradicional como na capoeira angola. As cantigas de caboclos presentes nos candomblés denotam uma interpretação de influências banto. As festas para os caboclos acontecem à noite, contudo, nem todo terreiro fazia festa para caboclo. O acesso, principalmente, nas casas tradicionais era restrito, chegando até a alguns membros da casa não participarem (1988). Em compensação os terreiros que faziam festa, estas eram feitas de forma pública.

Questionamentos: 

  • Como o toque do cabula (banto) se firma e vai parar na música popular, como matriz do samba baiano?
  • Como o samba deixa de ser samba maxixado e vira samba com sotaque baiano? Como escrever em quaternário? RESP: Com a chegada dos baianos, filhos de terreiros a casa de Tia Ciata, lugar onde negros baianos iam no rio de janeiro.