ANÁLISE DE FONOGRAMA, “ROSA MORENA”, DE DORIVAL CAYMMI (1959)
Por Daniela Natali
Análise da música: Rosa Morena (Dorival Caymmi)
Álbum: Chega de Saudade – 1959
Gravadora: Odeon – RJ
Estilo: Samba/Bossa Nova
Arranjo: Tom Jobim
Intérprete: João Gilberto
Instrumentação: Assovio, voz e violão (João Gilberto), flauta (Copinha), Bateria (Milton Banana) e Percussão (Guarani).
Lançado em LP, “Chega de Saudade – 1959” é o primeiro álbum de João Gilberto. Além de ser a estreia do cantor e compositor baiano, o álbum marcou o movimento da Bossa Nova. João Gilberto, fez uma síntese do samba no seu canto e no seu violão, trazendo várias células rítmicas diferentes.
Na música “Rosa Morena” João Gilberto usa diferentes células rítmicas no violão. Dentre elas, são estas as principais:
Nota-se que as mudanças entre uma célula rítmica e outra, ocorrem no 1º e 2º tempo do compasso, sendo o 3º e 4º tempo iguais. As células 1 e 3 são reduções da clave do cabila:
A célula 2 possui um deslocamento no 1º tempo do compasso:
João Gilberto, em suas interpretações, faz mudanças sutis na música. É preciso muita atenção para perceber estas mudanças. Caso contrário, as suas criações passam despercebidas, dando uma falsa impressão de linearidade. Em entrevista, para a revista Veja de 12 de maio de 1971, João afirma:
“Uma das músicas que me despertaram, que me mostraram que podia tentar uma coisa diferente, foi “Rosa Morena”, de Dorival Caymmi. Sentia que aquele prolongamento de som que os cantores davam, prejudicavam o balanço natural da música. Encurtando o som das frases, a letra cabia dentro dos compassos e ficava flutuando. Eu podia mexer com toda a estrutura da música, sem precisar alterar nada.
Outra coisa que eu não concordava eram as mudanças que os cantores faziam em algumas palavras, fazendo o acento do ritmo cair em cima delas, para criar um balanço maior. Eu acho que as palavras devem ser pronunciadas da forma mais natural possível, como se estivesse conversando. Qualquer mudança acaba alterando o que o letrista quis dizer com seus versos”.
Dorival Caymmi, gostava de usar o jeito coloquial do baiano conversar em suas canções. Desse modo, João Gilberto, manteve este conceito na sua interpretação de “Rosa Morena”. Como por exemplo, o início da melodia:
As frases da flauta são construídas, influenciadas pelas células rítmicas do violão. Inclusive, nas antecipações de notas chaves de acordes posteriores, ou seja, além de produzir um fundo harmônico, embelezando os acordes com tensões, elas seguem a fluência dos ritmos sugeridos pelas células rítmicas do violão. Em seguida, voz, flauta e as células rítimicas do violão, respectivamente.
Referências:
MELLO, Zuza Homem de. Folha Explica João Gilberto/Zuza Homem de Mello.-São Paulo: Publifolha, 2001. – (Folha explica). Av. Dr. Vieira de Carvalho,40, 11º andar, CEP 01210-010, São Paulo – SP.