“Requebre que eu dou um doce” (Dorival Caymmi)

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ANÁLISE DE FONOGRAMA, “REQUEBRE QUE DOU UM DOCE”, DE DORIVAL CAYMMI (1955)

Por Jordi Amorim

Buscando evidências sobre as transformações provocadas pelo encontro da clave do cabila com a indústria fonográfica na primeira metade do século XX, o fonograma a ser analisado nesta etapa do trabalho é “Requebre que eu dou um doce”. Composto e interpretado pelo baiano Dorival Caymmi. 

Nascido em Salvador, no dia 30 de abril de 1914, começou a compor em 1930, em 1935 é levado para a Rádio Clube da Bahia onde faz o programa “Caymmi e suas canções praieiras”. Em 1938, muda-se para o Rio de Janeiro com a intenção de se formar em direito, mas começa a se apresentar regularmente no rádio e, na sequência, começa a ter suas composições gravadas por Carmen Miranda, Anjos do Inferno e outros nomes da música brasileira. Caymmi faleceu aos 94 anos, em 2008, devido a uma insuficiência renal e falência múltipla dos órgãos. 

“Requebre que eu dou um doce”, o fonograma escolhido, foi lançado no ano de 1955 no lado B do disco Sambas, pela gravadora carioca Odeon. Apesar do disco ter sido publicado sem ficha técnica, encontra-se informações sobre a participação do grupo mineiro Titulares do Ritmo nos arranjos vocais e da orquestra do maestro paulista Luis Arruda Paes. Não há registros sobre quem foram os músicos que tocaram no disco, entretanto, há registros de que os membros do grupo Titulares do Ritmo além das notadas habilidades vocais também tocavam instrumentos, o que levanta a possibilidade de serem responsáveis também pela seção rítmica do álbum.

As claves se apresentam em ciclos, cumprindo dentro dos toques do candomblé a função de linha-guia onde se baseiam os tambores sagrados e suas variações rítmicas. A clave do cabila é encontrada mais comumente em duas posições conforme a figura 1 abaixo: 

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Desta maneira, antes de começar a análise mais a fundo, observei a forte incidência de notas na cabeça do primeiro tempo coincidindo com a que, a despeito de qualquer hierarquia, chamei na figura anterior de posição 1. As primeiras acentuações da introdução, bem como a convenção que segue, chamam logo a atenção para a cabeça do primeiro tempo, conforme a figura 2:

Figura 2:

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Na sequência da análise da frase, voltaremos a atenção à interpretação de Caymmi, observando como o cantor conduz a música ritmicamente. Através da transcrição da voz confrontamos a clave do cabila em suas duas posições mais usuais, onde a primeira começa na cabeça do primeiro tempo e a segunda começa na segunda semicolcheia do primeiro tempo. Encontramos uma dominância da primeira posição com empréstimos da segunda. Como na figura 3 a seguir: 

Figura 3:

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Na figura 3, é possível observar que a voz está sempre presente nas notas coincidentes entre as posições 1 e 2 da clave do cabila. Encontramos também a entrada da voz em anacruse que coincide com a última nota da clave do cabila na posição 1, bem como a primeira e a última notas do primeiro tempo, a última do terceiro tempo e as duas notas quarto tempo, já iniciando a próxima frase musical. Já a posição 2, se apresenta na segunda nota do primeiro tempo e na terceira nota do segundo tempo. 

Na sequência, na figura 4 abaixo notamos que as notas coincidentes entre as duas posições da clave, dentro das frases cantadas continuam, invariavelmente, se encontrando com a voz. Percebemos também que sempre no primeiro tempo do compasso é gerada uma síncope a partir da junção da inclusão das primeiras notas duas posições da clave do cabila.

Figura 4:

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Referências:

https://educacao.uol.com.br/biografias/dorival-caymmi.htm Acesso em: 21/03/2021

https://musicabrasilis.org.br/compositores/dorival-caymmi Acesso em: 21/03/2021

https://en.wikipedia.org/wiki/Dorival_Caymmi Acesso em: 21/03/2021

http://g1.globo.com/Noticias/Musica/0,,MUL726071-7085,00-DORIVAL+CAYMMI+MORRE+AOS+ANOS+NO+RIO.html Acesso em: 21/03/2021